terça-feira, outubro 25

O melhor dos Capitães se foi...

Não comece uma conversa com meu Pai sobre futebol e diga que o melhor time campeão de Copas não seja o de 1970. Nem ouse dizer que Carlos Alberto Torres não seja o melhor jogador dentre aqueles que tiveram a honra de levantar uma Copa com a Camisa Amarelinha. Vai ouvir poucas e boas...

Fiz diversas vezes esse comentário em minha vida. Muito antes de termos canais por assinatura e internet, era através de nossos pais que conseguíamos informações. Não por outro motivo a taxa de filhos que torcem pelo time do pai é maior entre os que tem mais de 35 anos do que entre os mais jovens. E a tendência é, infelizmente piorar. Antes de poder ver pela primeira vez o tape da final da Copa de 1970 ( o que só aconteceu às vésperas do Tetra nos EUA ), era com Zé Vieira que eu buscava informações. Sabia a escalação completa daquele time, das histórias de bastidores, da saída de Saldanha e a entrada de Zagallo, de como Dirceu Lopes ficou de fora, de como Edu perdeu a vaga para Rivelino. Tudo dentro de casa, com o olhar de um santista, o que também sou. 

Hoje, perto do meio dia, veio a falecer o homem que meu pai só admira menos do que Gérson e Pelé: o Capita. Sim, Carlos Alberto Torres faleceu hoje aos 72 anos, vítima de um infarto. Para os mais jovens perdemos apenas um campeão de 1970, mas eu sei desde cedo que Carlo Alberto Torres ( assim como Paulo Roberto Falcão, um dos pouquíssimos jogadores da história a tornarem-se famosos pelo nome completo ) o papel dele naquele time. E ele vai além de ser o Capitão, muito mais do que isso. Ele era quase o ponta direita daquele time, pois Jairzinho usava o 7 apenas porque não podiam ter 5 pessoas com a camisa 10 ( Tostão, Rivelino e Gersón também mudaram de número porque... bom, porque a 10 era DELE ). Carlos Alberto fez algo que poucos sabem, mas foi mais importante para o Tri do que seu golaço na final contra a Itália.

Segunda partida da Copa era contra a Inglaterra, então campeã do Mundo. E apesar de todas as dúvidas sobre a credibilidade daquela conquista, era um timaço, com Banks, Bobby Moore e Jack Charlton. Mas tinha um ponta direito maldoso e desleal: Lee. Antes que Gordon Banks ficasse imortalizado com aquela que até hoje é considerada a maior defesa de todos os tempos ( das Copas com certeza é ), Félíx Miélli Venerando fizera o milagre da partida. Em uma defesa arrojada em dois tempos, evitou o gol do próprio Lee, que ao tentar aproveitar o rebote atingiu de forma dura o goleiro brasileiro. Confusão e cartão amarelo para Lee, como vemos na imagem abaixo:
Carlos Alberto jurando Lee... o ponta nem deu atenção. Logo se arrependeria disso...
Pelé, Brito, Clodoaldo e Rivelino queriam quebrar Lee de qualquer, mas o Capita disse: "deixem comigo, o árbitro jamais irá me expulsar". E de fato, pouco tempo depois, Carlos Alberto deixou a lateral e deu uma entrada pra quebrar no desleal Lee. O resultado da jogada, pode-se ver aqui no vídeo abaixo, a partir de 1:42 minutos, na inesquecível voz de Geraldo José de Almeida:

E de fato Carlos Alberto Torres não foi expulso. E Lee sumiu depois da entrada. E no segundo tempo... bom, todos lembram da mítica jogada em que Jairzinho finalmente venceu a barreira Banks e o Brasil fez 1x0. Ainda teríamos mais 3 partidas até a final - todas com vitórias - e na final... bom, todos também lembram do golaço feito por Carlos Alberto Torres, finalizando uma jogada iniciada com uma sequência de dribles de Clodoaldo, esticada de Rivelino para Jairzinho, que corta pro meio e toca para Pelé ( que poderia ter feito o gol caso quisesse ), Tostão aponta desesperadamente para o Rei, que rola com carinho para o Capitão fuzilar Albertosi e decretar o maior placar de uma final de Copas. Para quem por ventura não conhecer o lance, aqui um vídeo com narração da época ( creio ser Jorge Cury ):


Além de tudo isso, Carlos Alberto Torres ainda é, apenas, o melhor lateral direito de todos os tempos. E isso tendo jogado apenas uma única Copa do Mundo. Mas a fez no seu esplendor técnico, físico, tático e mental. Hoje eu lamento a perda de um ídolo da minha que nunca vi jogar, mas que desde muito cedo aprendi a respeitar pela fala do meu pai. Que assim como 90 milhões entraram em ação com aquele timaço e choraram ao ver Carlos Alberto Torres erguer em definitivo a Jules Rimet.

O Brasil fica órfão do seu mais talentoso Capitão. E eu choro por isso. Quem gostar de futebol, idem. 

Carlos Alberto, Bellini e Mauro Ramos. Os três primeiros capitães campeões do Brasil... 
o lance mais famoso...
e o soco no ar, como o amigo Pelé
A cena que jamais será esquecida

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