terça-feira, maio 27

Suíça 1954: Hungria encanta, mas a Alemanha é quem vence

Desacreditas, estes homens superaram tudo e colocaram a Alemanha na história das Copas
Existem várias formas de se contar a história da Copa de 54 e uma das mais usadas é citar como a Hungria perdeu aquela Copa. Mas toda história tem dois lados ( algumas até mais ) e esta é uma daquelas Copas em que o vencedor ficar relegado a um local secundário. Só que a Seleção Alemã, ao contrário do que muitos pensam, era um grande time e se superou naquele torneio. Usando todas as armas que tinha a disposição, algumas delas nem tão nobres assim. 

A Copa voltava a Europa e a escolhida foi a neutra Suíça, onde a FIFA instalar sua sede desde o fim da Guerra. Voltou-se a ter 16 participantes, mas pela terceira Copa seguida ( e pela quarta em cinco edições ) o regulamento foi alterado. E desse vez - ainda bem que só foi usado nesta edição - foram ao extremo: formaram-se 4 grupos com 2 cabeças de chave em cada um deles. Os vencedores da rodada de abertura se enfrentariam na segunda rodada, enquanto que os derrotados, digamos assim, disputavam uma repescagem. Acontece que, se os vencedores empatassem se classificariam sem ter que jogar uma terceira partida. Entenderam? Não? Pois leitor, não fique triste pois a Seleção Brasileira também não entendeu nada...

Os participantes eram assim divididos por continentes:
  • América do Sul: Brasil e Uruguai;
  • América do Norte: México;
  • Europa: Suíça, Alemanha, França, Áustria, Hungria, Iugoslávia, Itália, Bélgica, Escócia, Inglaterra, Tchecoslováquia e Turquia
  • Ásia: Coreia do Sul.

Já a divisão por grupos e o seu desenrolar ficou assim:
  • Grupo A: Brasil, Iugoslávia, França e México. Nós abrimos o grupo encarando o México e foi um passeio ( 5x0 ), enquanto no mesmo horário a cabeça de chave Franca perdia para os iugoslavos ( 1x ). Assim, Brasil e Iugoslávia iriam decidir o primeiro lugar do grupo. Na repescagem a Franca venceu por 3x2 o México, mas já sabia do empate entre Brasil e Iugoslávia e foi eliminada. Falarei desta partida mais abaixo, quando destacar o Brasil na Copa;
  • Grupo B: Hungria, Alemanha Ocidental, Coreia do Sul e Turquia. Todos sabiam bem quem era favorito do grupo: os mágicos magiares comandados pelo jogador da europa Ferenc Puskas, o Major Galopante. E eles foram com os coreanos ( que não falavam uma palavra fora do seu idioma!! ) ao aplicarem 9x0 - maior goleada até os 10x0 que eles mesmo aplicaram em Honduras 28 anos depois na Espanha. Já o Alemães não tiveram problemas para fazer 4x1 na Turquia. Na partida entre os vencedores, sabedor que seu time não teria chances contra a Hungria, o técnico alemão Sepp Herberger escalou um time reserva e deu uma incumbência a uma zagueiro: bater em Puskas e tirá-lo da Copa. A Hungria passeou ( 8x3 ), mas o Major Galopante estava fora das próximas partida e atuou no sacrifício a final. Na repescagem, outra vitória alemã sobre os Turcos ( 7x2 ) e a vaga para as quartas de final, estava garantida. E caso queira saber, o turcos também massacraram os pobres coreanos ( 7x0 );
  • Grupo C: Uruguai, Áustria, Thecoslováquia e Escócia. O Uruguai vencera as duas Copas que participara e até então nunca perdera uma partida sequer, com direito a um único empate. E venceu logo na estreia os tchecos ( 2x0 ), enquanto que o outro cabeça de chave era derrotado, a Escócia ( 1x0 para a Áustria ). Aqui, ao contrário dos outros grupos, outra vitória por parte dos vencedores resolveria o grupo. E foi o que aconteceu: Uruguai 7x0 na Escócia ( maior goleada deles na história das Copas ) e a Áustria passando pelos tchecos ( 5x0 );
  • Grupo D: Itália, Bélgica, Suíça e Inglaterra. O grupo do país sede. Pois é, na abertura a Suíça superou a Azzura ( 2x1 ), enquanto que a Inglaterra empatou com a Bélgica ( 4x4 ). Na rodada seguinte os ingleses venceram bateram a Suiça ( 2x0 ) e a Itália bateu a Bélgica ( 4x1 ). Com estes resultados os inventores do futebol se classificaram, enquanto teríamos outra partida entre Itália e Suíça. E os donos da casa levaram, de novo, a melhor: 4x1. Eram tempos vacas magríssimas para a Squadra Azzura. Que durariam até 1970...;

Resolvida a complicadíssima primeira fase, vieram as quartas de finais. E os confrontos passaram para a história. Para começar, em Lausanne, Áustria e Suiça fizeram a partida com mais gols na história dos mundiais: 7x5 para os austríacos, que chegaram a estar perdendo pro 3x0 em apenas 23 minutos!!!; Na Basileia, os uruguaios despacharam sem grandes sustos a Inglaterra ( 4x2 ) e seguiam sem perder em Copas; Em Genebra ocorreu o primeiro de 4 confrontos eliminatórios entre Alemanha e Iugoslávia na história e os germânicos venceram por 2x0; Já brasileiros e húngaros travaram a famosa batalha de Berna, vencida pelo magiares por 4x2;

Antes de falar das semi-finais um dado: esta Copa é até hoje a que tem a melhor média de gols da história dos mundiais. Dá para entender bem o porque com os placares das partidas.

A busca por uma vaga na final opôs Uruguai e Hungria, em Lausanne. Os comandados de Gusztav Sebes ( também Ministro dos Esportes do governo socialista húngaro ) eram os melhores da Europa desde o fim de 1950. Tinham vencido a Olimpíada de Helsinque sem dar chances a ninguém e era o melhor ataque da Copa e a melhor defesa ( o que é muito, em se tratando da média altíssima de gols marcados ). Era um timaço, muito melhor que o Brasil em 1950, mas o adversário era o Uruguai. E deles, nunca pode-se duvidar. Mantendo sua rotina os magiares abriram o placar antes dos 15 minutos e ampliaram ainda no primeiro tempo. A Celeste Olímpica, com um homem a menos, buscou o empate faltando 6 minutos: 2x2  e prorrogação!!! O público apoia o Uruguai e sua fibra diante dos melhores do mundo. Mas o esforço cobra um preço alto: cansados eles finalmente caem antes os gols de Hidegutki e Kcosis ( artilheiro com 11 gols ) e enfim, após 12 jogos finalmente saem de campo derrotados. Mas aplaudidos de pé pelo publico. E até pelos Húngaros. Esta foi tratada pela imprensa como a final antecipada... pois é. Na mera "formalidade" a Alemanha fez 6x1 na Áustria, que era considerada favorita.

Na final, tudo já estava desenhado. Ninguém podia parar a Hungria, ainda mais com Puskas voltando. Poucos sabiam que ele entrou para a partida a base de infiltrações. Mas eram os favoritos, para alguns já campeões. Pesam até hoje acusações de que os alemães teriam jogado sob efeito de doping, algo jamais comprovado. O fato é que quem esteve em campo presenciou aquilo que passou para posteridade como o "Milagre de Berna". 

Em oito minutos já estavam 2x0 para Hungria. Todos, creio eu, pensaram: vem goleada por ai. Não veio não. Antes dos 18 minutos, os alemães empataram. E a partido seguiu lá e cá, com entradas violentas dos dois lados. Faltando 6 minutos para o fim do tempo normal, Helmut Rahn recebe perto da área, limpa dois marcadores e chuta no canto de Grosics para dar números finais a partida: 3x2. Atônitos os espectadores nem sabem o que pensar. E o Major Galopante, andando em campo ainda empataria 2 minutos depois, em lance anulado. Para muitos, sem motivo.

O fato era que a Alemanha, que recebera oferta de ter suas despesas custeadas pelos organizadores ( o que foi prontamente recusado ), saía 20 dias depois como campeã mundial. E mais uma vez o melhor futebol ruía a determinação de um time, sabidamente, inferior tecnicamente. Mas que, assim como o Uruguai quatro anos antes, estava longe de ser um timinho. E Fritz Walter seria o último a, digamos assim, receber a Taça de modo comum.


O Artilheiro


Sandor Kocsis foi o artilheiro da Copa com a melhor média de gols da história ( 5,5 ). Ele era um atacante alto, mas que tinha habilidade pro drible. Marcou 11 gols, mas assim como Ademir de Menezes 4 anos antes, falhou quando era mais preciso: na final. Os gols húngaros naquele dia foram de Puskas e Czibor. Sua marca era um recorde, superando os 9 que o nosso queixada marcara em 50. Mas que só duraria uma Copa...

O Brasil na Copa

Tentando refazer-se do Maracanazo, o Brasil trocou tudo o que pode em sua Seleção, até a camisa. Em um concurso feito em 1952, foi escolhido o padrão utilizado até hoje: amarelo e azul. Quase todos os jogadores de 1950 não foram convocados, exceção feita a três nomes: Nilton Santos, Bauer e Baltazar. E assim o time viajou sem seu melhor jogador naqueles tempos, o Mestre Ziza.

Após vencer bem o México, o Brasil pensava que só o primeiro colocado passaria de fase, assim como em 30 e 50. E por isso partiu pra cima da Iugoslávia, cujo jogadores tentavam de todas as formas avisar que o empate servia. Só que os brasileiros - nenhum atleta falava outra língua senão o português ( alguns nem isso ) - achavam que os rivais estariam era provocando!!! E assim o time desperdiçou forças, a ponto de os atletas lamentarem a eliminação ao término da peleja. Só no dia seguinte é que a FIFA informou que o Brasil passara de fase e iria sair de Lausanne e teria que viajar até Berna para jogar as quartas de final. Quanta desorganização, não é mesmo?

Castilho se atira aos pés de Kocsis, Nilton Santos na cobertura...

E em Berna... bom, teve a Batalha de Berna. E o nome não é só pelo jogo, mas sim pela briga generalizada e o show de entradas violentas. Os húngaros eram melhores e logo fizeram 2x0. Djalma Santos descontou de penalty no fim do primeiro tempo. Lantos fez 3x1 e Julinho Botelho ( o destaque do Brasil na Copa ) deu esperanças ao Brasil, ao marcar aos 20 do segundo tempo. O Brasil pressionou e ainda mandou duas bolas na trave. Mas aos 43 Kocsis deu números finais: 4x2. Após a partida jogadores, dirigentes e repórteres entraram numa briga generalizada.

E assim, de forma melancólica, terminava a primeira participação da Seleção Canarinha em Copas. Até a Suécia em 58 e o despertar do Gasolina. Já sabem quem é ele?

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